Desigualdade deve levar pandemia de covid-19 a ‘se arrastar por 2022’
Por Gabriel Valery, da Rede Brasil Atual – RBA
Foto: Brenda Alcântara / Oxfam Brasil
OMS afirma que desigualdade e ganância de países ricos na obtenção de vacinas deve postergar o fim da pandemia. “Precisamos acelerar”
A pandemia de covid-19 segue recheada de incertezas. Enquanto cientistas alertam para perigos de retomada a partir do fim de medidas protetivas, pairam riscos do surgimento de novas variantes. Especialmente com o vírus circulando de forma intensa e descontrolada em boa parte do mundo. Também impacta no cenário da pandemia a desigualdade vacinal extrema entre países ricos e pobres. Diante dos fatos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que a crise vai “facilmente se arrastar profundamente em 2022”.
A OMS reforçou as críticas sobre a mercantilização das vacinas que deixa boa parte do mundo desassistida, enquanto mais de 70% das doses aplicadas foram em cidadãos dos 10 países mais ricos do mundo. Por exemplo, o continente africano vacinou totalmente apenas 5% de sua população. Essa média fora da África é de 40%. Mesmo o consórcio Covax Facility, criado pela OMS para entregar vacinas para os países mais pobres, não deve alcançar 30% de sua meta de 2 bilhões de doses. Até o momento, foram entregues menos de 371 milhões.
“Nós realmente precisamos acelerar, ou sabe o que vai acontecer? Esta pandemia vai durar mais um ano do que precisa. Posso dizer que não estamos no caminho certo”, disse Bruce Aylward, alto diretor da OMS, em reportagem da BBC News. Ele reforçou que países com ampla disponibilidade de vacinas devem realizar uma “moratória” sobre a aplicação das terceiras doses. A ideia da organização é de vacinar, ao menos, 10% de todos os países antes que doses de reforço sejam aplicadas em pessoas sem comorbidades ou imunossuprimidas. Assim, o maior desafio para a superação da pandemia é a desigualdade.
Desigualdade chave
Em outro comunicado realizado hoje (21) o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, apontou para a lentidão na vacinação dos profissionais da Saúde no mundo, além de ampla desigualdade. De acordo com levantamento da entidade, apenas dois em cada cinco trabalhadores estão completamente imunizados. O mesmo estudo indica que morreram de 80 mil a 180 mil profissionais desde o início do surto, em março de 2020. A grande margem de erro tem relação com a subnotificação de alguns países, como é o caso do Brasil, que não adotou uma política pública em nível federal de combate ao vírus. Ao contrário, o governo do presidente Jair Bolsonaro desdenhou das mortes e minimizou os vírus, além de ser acusado de diversos crimes na condução da crise.
A OMS insistiu que esse grupo deve ser prioritário em todo o mundo no processo de vacinação. Adhanom ponderou que também existe ampla desigualdade regional em relação às mortes de profissionais de saúde durante a pandemia. “É óbvio que essa média esconde enormes diferenças entre regiões e setores econômicos. Na África, menos de 1 em cada 10 profissionais da saúde foi completamente imunizado, enquanto na maioria dos países de renda alta, mais de 80% estão vacinados com o esquema completo”, disse.
Balanço
Com quase 5 milhões de mortos em todo o mundo, a covid-19 é a maior crise sanitária global desde a gripe espanhola, em 1918. No Brasil, foram registradas 604.228 mortes, de acordo com balanço do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), divulgado hoje. Além disso, é o país com mais vítimas do vírus em 2021 e segundo desde o início do surto, atrás dos Estados Unidos, com pouco mais de 700 mil mortes e população 50% maior.
Nas últimas 24 horas, foram 451 vítimas sem contar com dados do Ceará, não informados até o fechamento do balanço. Também foram notificadas 16.852 novas infecções, totalizando 21.697.341 desde o início do surto. A média de mortes e casos diários segue em tendência de estabilidade com leve crescimento desde a última semana. O índice, calculado em sete dias, está em 369 vítimas e 12.158 doentes. A métrica de mortes, que já foi a melhor desde abril de 2020, agora é superior, além do período inicial da pandemia, ao “vale” (movimento de queda exibido no gráfico) apresentado em novembro do ano passado.