Vacinação pode recuperar o ciclo econômico de produção e consumo
De acordo com Sérgio Sakurai, a economia funciona em círculo, a vacinação faria a recuperação dos setores mais prejudicados estimular outros setores a retomarem suas atividades. O obstáculo é a falta de coordenação nacional para garantir equidade do processo de imunização.
Os efeitos da vacinação da população brasileira não são sentidos apenas na saúde das pessoas, mas também na economia do País. Já é consenso entres economistas que, quanto mais cedo as pessoas forem vacinadas, mais cedo a economia volta à normalidade, com a retomada da atividade industrial, dos serviços e do comércio e, consequentemente, o crescimento econômico se torna mais efetivo.
É com essa lógica que muitos economistas e analistas apontam que se 70% da população brasileira tiver sido vacinada até agosto, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano terá um aumento de dois pontos percentuais, saltando de uma previsão de 3,5% para 5,5%.
A relação de causa e efeito entre a vacinação e a economia tem algumas explicações, segundo o professor Sérgio Sakurai, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP. Especialista em Métodos e Modelos Econométricos, o professor cita dois canais que permitiriam que a economia melhorasse em caso de uma vacinação mais rápida da população. O primeiro é o nível de consumo. “As pessoas consumiriam mais produtos e serviços que hoje elas consomem menos ou não consomem em função do fechamento de algumas atividades”.
O segundo canal, de acordo com Sakurai, seria do ponto de vista da produção. Para ele, a intensificação da vacinação ajudaria a economia a retomar seu padrão normal de funcionamento mais rápido. “A produção das empresas aos poucos voltaria ao seu ritmo normal. A própria contratação dos fatores de produção, que são capital e trabalho, lucro e salário, voltariam aos seus níveis normais.”
O professor lembra que o crescimento que houver este ano deve apenas recompor as perdas, ou parte delas, do PIB, que recuou 4,1% no ano passado em relação a 2019, segundo o Boletim Conjuntura Econômica, deste mês, produzido pela FEA-RP. “Trata-se do pior desempenho em 24 anos.”
Os setores que tendem a ser mais beneficiados com a retomada da economia são os mais prejudicados na quarentena, segundo o professor, como comércio e serviços. Para ele, a economia, como funciona em círculo, faria a recuperação desses setores estimular outros setores a retomarem suas atividades, como a indústria e até mesmo o agronegócio, único setor que se mantém imune à pandemia.
O consórcio de veículos da imprensa apontou que, no dia 22 de março, 12,8 milhões de pessoas tinham tomado pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19, uma cobertura de apenas 6,04% da população brasileira. Será que nesse ritmo de vacinação é possível chegar em agosto com 70% da população imunizada? O infectologista Fernando Rodrigues Bellissimo, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, acredita que sim, mas para isso é preciso investimento e coordenação.
“O Brasil tem capacidade técnica operacional para vacinar até 1 milhão de pessoas por dia contra a covid-19. A grande limitação nesse momento é que não temos vacina suficiente para aplicar nessa velocidade.”
O professor diz que é preciso investimento coordenado do governo federal com os Estados para adquirir essas vacinas e organizar a logística para distribuir em todo o Brasil.
Para ele, o esforço coordenado entre Federação e Estados serve para garantir a equidade do processo. “Particularmente me desagrada o fato de Estados e municípios quererem comprar por fora, digamos assim, do Programa Nacional de Imunização, suas próprias doses. Isso vai perpetuar no Brasil o que vemos no mundo, ou seja, nações mais ricas vão comprar mais doses e as mais pobres têm dificuldades de obter vacinas. Algum Estado do País tem condições de competir com São Paulo, por exemplo? Os Estados mais pobres correm o risco de ficar para trás na vacinação da população”, conclui o professor.
Para ele, a prioridade deveria ser para estados em condições mais calamitosas da pandemia, e depois aqueles com maior proporcionalidade de população. A proliferação de notícias falsas também é algo que atravanca o processo de imunização, desinformando a população alvo, segundo ele.
Fonte: Portal Vermelho em edição de entrevista à Rádio USP/Confederação dos Servidores Públicos do Brasil – CSPB